sábado, 2 de outubro de 2010

Confissões de um cristão cansado


Sinto-me um sobrevivente. Alguém que precisa de sombra. Meu caminhar já não é tão contagiante quanto antes. Não tenho mais aquele entusiasmo. Cansei de lutar por verdades num século de mentiras. Cansei de tentar ser, numa época do não-ser. Dói profundamente trabalhar tanto e não ver resultados práticos. A igreja, em sua maioria, é um terreno de cansados.



Vejo muita gente tão cansada quanto eu. Não suporto mais os mesmos "cânticos", principalmente quando são todos feitos da mesma moldura. Os mesmos trejeitos, a mesma entonação de voz, as mesmas idiossincrasias, o eterno culto invasivo do "faça isso", "levante-se", "diga ao seu irmão", "glorifique", "declare!" A sensação que tenho é de que nunca sou livre para prestar um culto do meu jeito, se não enveredar pelas mandingas evangélicas, não é culto.



Cansei do misticismo exacerbado das igrejas: fetiches demonizantes, aparatos "sagrados", uma infinidade de "unções", uma espécie de animismo evangélico que cada vez mais aprisiona. Essa mentalidade mística tem gerado uma gama enorme de gurus da celestialidade imbecilizada, um número demasiado de bobos da corte de um reinado da decadência.



Cansei da teologia de gabinete que é "feita" na maioria das igrejas. Teologias que não aceitam questionamentos. Gente metida a teólogo, mas que não tem leitura, nem gasta tempo debruçado sobre os grandes temas, e quando o faz, é apenas num exercício de "caça às bruxas" que desafiam o status quo de sua ideologia igrejeira. Gente que é viciada em teologias de receita de bolo, do tipo: "não toque nos ungidos", "cuidado, isso é heresia", "quantas almas você já ganhou?", como se o reino de Deus fosse medido pelas calculadoras da culpa que os fariseus de hoje adoram usar.



Estou profundamente decepcionado com a hereditariedade escravizadora que assaltou as igrejas. Sobrenome vale mais do que chamado. É a "vocação do DNA", onde o que persiste é o cargo passado de pai para filho, de filho para neto, de neto para cunhado, de cunhado para irmão, de irmão (de sangue, diga-se de passagem) para tio, e por aí vai... As ramificações familiares abortam sonhos ministeriais de muita gente ungida, chamada e talentosa em nosso meio, mas que, por causa desses cárceres genéticos, são condenadas ao anonimato.



Estou decepcionado comigo mesmo por não poder fazer mais nada! Todo o poder que tenho vem dessas pequenas armas: a caneta (computador) e a imaginação. Minha arma é o texto. Como lutar usando palavras contra sistemas e esquemas bélicos altamente mortais? Quem sou eu para provocar alguma mudança? Que triste senda a que estou trilhando: sonhar com uma igreja livre das tiranias do poder e das famílias! Guardem o troféu de "bobo da vez" para mim.
Se eu não amasse a Deus, não estaria mais na igreja.
Esse é meu lamento.



Até mais...



Alan Brizotti


2 comentários:

  1. "Estou decepcionado comigo mesmo por não poder fazer mais nada!"

    Esse também é o meu lamento...

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  2. é Katiana infelismente não podemos fazer nada estamos obrigados a viver esta realidade.

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